O nome não é em vão. A obesidade mórbida é uma doença crônica grave, que prejudica de forma intensa a qualidade de vida das pessoas e pode levar à morte. No Brasil, estima-se que 10% da população (aproximadamente 20 milhões de pessoas) apresentem essa condição. A cirurgia bariátrica, muitas vezes, é o melhor tratamento.
A obesidade mórbida é caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura no corpo. Estes pacientes apresentam uma relação entre peso e altura (índice de massa corporal) superior a 40 kg/m² – cerca do dobro de pessoas consideradas saudáveis. Nessa faixa, classificada como Obesidade Grau III, os riscos para doenças associadas é muito grande.
“Isso pode ser provocado tanto por fatores genéticos quanto pelo estilo de vida das pessoas. O estresse, a ansiedade, o sedentarismo e a alimentação inadequada podem levar à doença ou potencializá-la.” – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).
Por isso, além da cirurgia bariátrica, é fundamental que os pacientes com obesidade mórbida sejam acompanhados de perto por uma equipe multidisciplinar. Nutricionistas, Educadores Físicos, Psicólogos e Médicos Endocrinologistas cumprem um papel importante para as mudanças de hábitos que levam ao sucesso do tratamento.
O Papel da Cirurgia Bariátrica
Diferente do que muitas pessoas pensam, o papel da cirurgia bariátrica vai muito além do conforto estético. Muitos estudos consideram a obesidade um estado inflamatório permanente.
“As células de gordura estimulam reações metabólicas inflamatórias. Isso contamina o organismo por inteiro e prejudica o bom funcionamento de órgãos e sistemas. Diabetes, pressão alta e acúmulo de gordura nas artérias são algumas das consequências.” – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).
A obesidade mórbida pode estar na raiz de problemas graves, como o infarto agudo do coração. Pacientes com inflamação crônica, provocada pela obesidade mórbida, podem viver até 20 anos a menos do que pessoas não obesas.
Indicação da Cirurgia Bariátrica
A cirurgia bariátrica é um procedimento de alta complexidade, regulamentado pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Por isso, nem todos que estão acima do peso podem realizá-la. A indicação é feita apenas para pacientes crônicos, nos quais o tratamento clínico (reeducação alimentar, atividade física e até uso de remédios) não surtiu o efeito desejado.
Para realizar uma cirurgia bariátrica, o paciente precisa ter o IMC acima de 40 kg/m². Pessoas com IMC superior a 35 kg/m² e com problemas de saúde provocados pelo excesso de peso (pressão alta, problemas articulares, distúrbios do sono, etc) também podem realizar o procedimento.
No entanto, pela lei, o paciente candidato à cirurgia bariátrica deve passar por, no mínimo, 4 avaliações:
- Avaliação do médico responsável (que acompanha o paciente): o profissional deve atestar que ele possui obesidade mórbida por, no mínimo, 5 anos. Deve ser comprovado também que, há 2 anos, o paciente está tentando emagrecer por outras formas, mas sem sucesso.
- Avaliação do médico cirurgião: o cirurgião deve avaliar se os problemas de saúde causados pelo excesso de peso do paciente são mais graves e perigosos do que os riscos da própria cirurgia bariátrica.
- Avaliação do Nutricionista: por conta das mudanças importantes na relação do paciente com a comida após a cirurgia, e das alterações na capacidade de absorver nutrientes, a avaliação deste profissional é também requerida.
- Avaliação do Psicólogo: nesta avaliação, o psicólogo procura saber se o paciente possui algum problema emocional ou adicção que prejudique a própria capacidade de decisão e compreensão dos fatos.
Como é realizada a cirurgia
Atualmente, existem 4 técnicas de cirurgia bariátrica autorizadas pela ANS no Brasil. Todas envolvem a redução do estômago, sendo algumas também associadas ao desvio do intestino. A decisão sobre qual técnica utilizar é tomada em conjunto, entre médico cirurgião e paciente, de acordo com cada caso.
No Hospital SOS Cárdio, a cirurgia bariátrica é realizada sem a necessidade de grandes incisões no abdome, com videolaparoscopia avançada. Através de pequenos furos, o médico cirurgião insere uma microcâmera com luz própria e os instrumentos necessários para a realização do procedimento.
Além do conforto estético no pós-operatório, as taxas de complicação ficam abaixo de 3%. O risco de mortalidade é de cerca de 0,1% (semelhante ao de cirurgias de vesícula ou para remoção de apêndice).
A técnica, menos agressiva ao organismo, também diminui consideravelmente as dores no pós-operatório e o tempo de internação no hospital. O procedimento leva entre 1h e 1h30 para ser realizado.
“A experiência profissional é muito importante para o sucesso da cirurgia bariátrica. Somente aqui no hospital SOS Cárdio são realizadas cerca de 40 cirurgias bariátricas por mês. Hoje, o Hospital SOS Cárdio é referência em todo país no tratamento da obesidade mórbida.” – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).
Efeitos Hormonais da Cirurgia
O principal efeito do tratamento cirúrgico da obesidade mórbida é a perda de peso. No entanto, isso não acontece apenas por conta da redução do estômago e da restrição alimentar. A cirurgia bariátrica também provoca mudanças hormonais importantes para o paciente.
Descobertas relativamente recentes mostram que, além conduzir e absorver os alimentos, o tubo digestivo humano também é responsável pela secreção de hormônios responsáveis pela regulação da saciedade.
“As alterações anatômicas provocadas pela cirurgia bariátrica estimulam a secreção de hormônios de proteção do metabolismo e da saciedade – que antes não eram liberados. Isso melhora sobremaneira o metabolismo de açúcares e gorduras.” – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).
Dessa forma, após a cirurgia bariátrica – por conta dessa nova regulação hormonal – os pacientes perdem significativamente o interesse pela comida.
Pós-operatório da Cirurgia Bariátrica
Em geral, os pacientes da cirurgia bariátrica costumam permanecer dois dias internados no hospital. Após isso, são necessários entre 7 e 10 dias de repouso domiciliar. Em duas semanas, os pacientes já podem realizar atividades administrativas leves. E, em 30 dias, são liberados e estimulados para a prática de atividades físicas progressivas.
Já os efeitos hormonais de redução do apetite podem ser sentidos imediatamente após a cirurgia bariátrica.
Por conta dos pontos, e de todo o processo inflamatório e cicatricial decorrente do procedimento, os pacientes recém operados devem passar por um período de readaptação alimentar. Ele consiste em:
- 15 dias de dieta líquida;
- 15 dias de dieta cremosa;
“O paciente pode ficar com medo de sentir fome, mais isso geralmente não acontece. As mudanças hormonais provocadas pela cirurgia bariátrica fazem com que, muitas vezes, os pacientes tenham que ser estimulados a comer por conta da falta de apetite.” – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).
A ingestão de alimentos sólidos durante o período de readaptação é estritamente proibida. O risco de infecções decorrentes da abertura dos pontos é real. Já a ingestão de água pode ser feita normalmente. Após 30 dias, os paciente já podem fazer refeições sólidas normais.
Trabalho Multidisciplinar
A cirurgia bariátrica é muito importante, mas é só o início do tratamento. Além das mudanças físicas e hormonais, é preciso que o paciente tenha todo o suporte para uma mudança comportamental completa – evitando assim, o retorno da doença.
A comida costuma representar uma grande fonte de prazer para o obeso mórbido. É muito comum que, após a cirurgia, as pessoas busquem outra fonte de prazer. Esse processo é bastante delicado, e deve ser acompanhado de perto, de preferência por um psicólogo.
“O paciente precisa aprender a sentir prazer com hábitos de vida saudáveis. Precisa também evitar novos vícios, como o alcoolismo. É muito importante que, após a cirurgia bariátrica, o paciente continue a ser acolhido. Ninguém quer voltar a ser obeso. No entanto, para isso, é preciso ter referências e suporte.” – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).
Nesse ponto, o papel do profissional de educação física também é importante. Ele irá incentivar e orientar o paciente a descobrir as possibilidades do próprio corpo através da atividade física.
O nutricionista é outro profissional indispensável. As mudanças anatômicas provocadas pela cirurgia bariátrica fazem com que os pacientes tenham mais dificuldades para absorver algumas vitaminas e sais minerais. Cálcio, ferro, vitaminas A, B12 e D são alguns exemplos. Isso exige exames periódicos e suplementação permanente.
As mudanças hormonais provocadas pelas alterações no aparelho digestivo também fazem com que o acompanhamento com Médico Endocrinologista seja necessário.
A Volta da Obesidade
As mudanças hormonais provocadas pela cirurgia bariátrica são para vida toda. Entretanto, elas costumam ser sentidas com mais intensidade logo nos dois primeiros anos após a cirurgia.
Depois disso, a tendência é que o paciente se acostume com a sensação de saciedade. O que pode ser perigoso – especialmente para aqueles que não mudaram os seus hábitos.
O índice de recidiva da doença a longo prazo é de 25% a 30%. Esse número, bastante alto, está geralmente relacionado a pacientes que não tiveram o acompanhamento adequado.
“Pacientes que não mudam os seus hábitos podem ter novos estímulos pela comida e acabar enganado o próprio mecanismo de perda de peso.” – Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019).
Sobre o autor: Dr. Paulo Roberto de Miranda Gomes Junior (CRM 9547 / RQE 7019) é médico especialista em Cirurgia Bariátrica, graduado na primeira turma reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina na área, em 2017. É membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica e cirurgião do Hospital SOS Cárdio.