A atuação da Psicologia Hospitalar acontece devido à importância da dimensão psicológica no processo de adoecimento e de vivência da internação hospitalar, que pode vir a ser prolongada e clinicamente complexa. Tais experiências costumam vir acompanhadas de impactos emocionais a pacientes e familiares. Assim, acabam tendo implicações na rotina hospitalar, na comunicação com as equipes de saúde e na recuperação propriamente dita.

Atualmente, é consenso que a família exerce papel de alicerce para o paciente e também de apoio para a equipe multiprofissional que o acompanha. Muitas vezes, é preciso contatar os familiares para obter informações, orientar e explicar possibilidades de tratamento. Nesse momento, estar em condições emocionais para tomar decisões é muito importante.

“O psicólogo contribui com a mediação da comunicação, visando o acolhimento e a compreensão das informações. A subjetividade do paciente, dos seus familiares, as suas formas de compreender e de dar significado às experiências vividas ao longo do processo de adoecimento e internação são importantes subsídios para a atuação do psicólogo” – Vanessa Pinheiro, Psicóloga (CRP 12/16330).

Atenção Total ao Paciente

A Psicologia Hospitalar tem o objetivo de promover a atenção total ao paciente e à sua história de vida. Este atendimento pode ser realizado em ambulatórios, pronto-socorros, unidades de internação e unidades de terapia intensiva. Neste contexto, o psicólogo realiza a avaliação e o acompanhamento de pacientes clínicos ou cirúrgicos.

Durante a avaliação psicológica são coletadas informações sobre a história clínica pregressa, histórico de saúde mental e rede de apoio do paciente. Assim, o psicólogo estabelece condutas para auxiliar o paciente nos aspectos de maior vulnerabilidade.

Destacamos as intervenções mais recorrentes:

  • Promover acolhimento e suporte emocional aos pacientes e familiares;
  • Identificar motivações e dificuldades na adesão ao tratamento proposto pela equipe;
  • Auxiliar na compreensão e assimilação da condição clínica, diagnóstico e tratamento;
  • Identificar e fortalecer recursos de enfrentamento;
  • Realizar preparação psicológica para cirurgia;
  • Auxiliar a equipe multiprofissional no cuidado integral ao paciente;
  • Auxiliar no processo de cuidados paliativos;
  • Realizar preparação psicológica para alta hospitalar.

“É importante salientar que os familiares ficam submetidos a toda dinâmica hospitalar e representam uma fonte de apoio significativa ao paciente. Por isso, eles também são acompanhados pela equipe de Psicologia Hospitalar, para receberem acolhimento, orientações e auxílio diante das limitações e diagnóstico do paciente. O atendimento à família é uma forma de intensificar o cuidado e suporte ao paciente” – Vanessa Pinheiro, Psicóloga (CRP 12/16330).

Abaixo, nós mostraremos alguns exemplos de como a Psicologia Hospitalar pode contribuir nos casos de pacientes com ansiedade, depressão e delirium.

Ansiedade e Depressão

Procedimentos de grande porte, como as cirurgias cardíacas e cirurgias bariátricas, despertam reações ambivalentes entre pacientes e familiares. Mesmo quando os resultados são positivos, as repercussões físicas, psicológicas e sociais exigem adaptações e mudanças no estilo de vida. Tais fatores podem gerar ansiedade e humor deprimido.

Nesses casos, o trabalho da equipe de Psicologia Hospitalar é auxiliar na elaboração dos aspectos relacionados à compreensão e aceitação das mudanças pré e pós cirúrgicas. Ao iniciar o processo de assimilação da condição clínica e emocional, os pacientes tendem a apresentar melhora do humor e postura ativa diante dos cuidados médicos necessários.

“A ansiedade não é necessariamente ruim, é uma reação natural diante de diversas situações cotidianas. Entretanto, um paciente com ansiedade intensificada em função da internação hospitalar pode apresentar sofrimento, sobrecarga emocional e alterações na condição física”. – Vanessa Pinheiro, Psicóloga (CRP 12/16330).

Já no pós-operatório, a internação hospitalar, a dependência inicial, os desconfortos físicos e o afastamento das tarefas cotidianas como o trabalho e estudos podem contribuir com a manifestação de sintomas depressivos. Sentimentos de tristeza, falta de interesse nos cuidados médicos, inapetência, insônia ou excesso de sono são alguns exemplos.

O trabalho da equipe de Psicologia Hospitalar envolve perceber a presença da ansiedade, da depressão e de outras manifestações psicológicas durante o período de internação, buscando compreender como cada paciente responde aos cuidados médicos. Assim, pode-se estabelecer uma melhor comunicação não só com o paciente, mas com a sua família e toda equipe multidisciplinar envolvida, proporcionando o manejo adequado a cada situação que possa vir a surgir e a orientação correta para o período de volta para a casa.

Casos de Delirium

O delirium é uma condição na qual o paciente perde, de forma total ou parcial, a conexão com a realidade. Trata-se de uma reação comum nas Unidades de Terapia Intensivas (UTIs), especialmente em idosos e em pacientes com estado de saúde agravado.

Muitas vezes, os casos de delirium envolvem distúrbio na atenção, pensamento desorganizado, alteração do nível de consciência e agitação psicomotora.  Estes sintomas podem gerar dificuldade para a equipe ofertar os cuidados ao paciente. Podem, até mesmo, trazer riscos: levantar do leito sem recomendação, retirar acesso venoso ou sonda por conta própria, por exemplo.

Nestes casos, o tratamento medicamentoso é o primeiro recurso utilizado para amparar o paciente. Depois, a equipe de Psicologia Hospitalar pode auxiliar o paciente e a família à compreender e elaborar o episódio de delirium.

Psicoterapia Breve

A psicoterapia breve é uma técnica indicada para atender pacientes que apresentam quadros agudos e reações emocionais diante de uma situação crítica. É constituída por uma avaliação das necessidades psicoterapêuticas e propõe-se a intervir nos sintomas e conflitos apresentados, priorizando determinada situação vivenciada pelo paciente. Diferente da psicoterapia clínica tradicional, a psicoterapia breve não visa aprofundar aspectos inerentes à construção social do sujeito ou características da sua personalidade.  

A equipe de Psicologia Hospitalar utiliza a psicoterapia breve para realizar as intervenções mencionadas anteriormente no tópico Atenção total ao paciente. E, se identificar necessidade, encaminha o paciente para a psicoterapia clínica após a alta hospitalar.

Sobre a autora:  – Vanessa Pinheiro (CRP 12/16330) é graduada em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. Atualmente, cursa especialização em Gestalt Terapia no Instituto Granzotto. Faz parte do Serviço de Psicologia do Hospital SOS Cárdio, atua junto à clínica Consciência Psicologia e também em consultório particular.