Fratura de fêmur: uma urgência ortopédica

Ortopedia

Os ossos servem de suporte para os tecidos moles do corpo e protegem órgãos vitais, como o cérebro e o coração. O fêmur, assim como muitos outros ossos longos, proporciona apoio aos músculos – especificamente os da coxa – e transformam as suas contrações em movimentos úteis para o nosso dia a dia, como sentar e caminhar. Por isso, a correção cirúrgica da fratura do fêmur é tão importante para a nossa qualidade de vida.

“O tecido ósseo é um tecido vivo, em constante remodelação. Ossos como o fêmur possuem certa flexibilidade e podem absorver alguns impactos. No entanto, na medida que envelhecemos, eles tornam-se mais frágeis e a fratura de fêmur cada vez mais comum” – Dr. Fernando Martins de Pina Cabral, Médico Ortopedista e Cirurgião de Quadril (CRM 26274).

Abaixo, o Dr. Fernando Martins de Pina Cabral (CRM 26274), Médico Ortopedista e Cirurgião de Quadril do Hospital SOS Cárdio, em Florianópolis, explica os fatores de risco e como funciona a cirurgia para correção de fratura de fêmur.

Fatores de Risco

De forma geral, os ossos humanos alcançam o seu pico de densidade mineral na terceira década de vida. E, após um certo período de equilíbrio, a medida que envelhecemos, é comum que eles se tornem cada vez mais frágeis. Esse processo natural é conhecido como osteopenia.

Já a osteoporose, por sua vez, é uma doença metabólica e que pode aumentar consideravelmente os riscos de fratura de fêmur. Entre as principais causas, está a redução drástica na concentração de hormônios específicos – algo que deverá ser avaliado pelo médico Endocrinologista.

“A baixa concentração desses hormônios deixa os ossos mais suscetíveis à fratura de fêmur. Isso acontece especialmente nas mulheres, por conta da menopausa. Pessoas idosas, que possuem a marcha mais lenta e dificuldades de equilíbrio, tendem a sofrer mais quedas e são o principal grupo de risco” – Dr. Fernando Martins de Pina Cabral, Médico Ortopedista e Cirurgião de Quadril (CRM 26274).

Outras doenças, como o hiperparatireoidismo, que provoca intensa reabsorção óssea, também podem levar à osteoporose e à fratura de fêmur.

Urgência Ortopédica

A fratura de fêmur costuma ocorrer na porção superior do osso, próxima à bacia. Por isso, ela é conhecida como fratura do fêmur proximal. Dependendo da área onde a fratura ocorre, ela pode ser dividida em:

  • Fratura do colo do fêmur;
  • Fratura transtrocanteriana;
  • Fratura subtrocanteriana.

Como vimos, esse problema tende a acontecer em pacientes com mais idade, durante episódios de quedas frontais e laterais. Está diretamente relacionada à diminuição da qualidade óssea do indivíduo.

Enquanto em jovens as chances de estabilização do fêmur por meio do uso de parafusos e placas é maior (pela qualidade dos ossos), em idosos a situação tende a ser bastante delicada. Nesses casos, na maior parte das vezes, a fratura de fêmur apresenta desvio: o osso é dividido em duas partes. E isso caracteriza uma urgência ortopédica.

“O índice de mortalidade em casos de fratura de fêmur pode chegar aos 30% em idosos. Ele está diretamente relacionado ao tempo que o paciente leva para ser operado. O ideal é que a avaliação radiográfica e o tratamento cirúrgico sejam realizados em até 48 horas” – Dr. Fernando Martins de Pina Cabral, Médico Ortopedista e Cirurgião de Quadril (CRM 26274).

A fratura de fêmur – especialmente no colo –  pode interromper o fornecimento de sangue para o tecido ósseo, que sofre risco de necrose local. Em pacientes idosos, os riscos decorrentes da fratura são ainda maiores. Isso porque tais pacientes costumam apresentar uma condição prévia de saúde que engloba outros fatores, como Diabetes e Hipertensão. Por isso, nesses casos, a impossibilidade de caminhar e a necessidade de ficar deitado aumentam as chances de complicações, como trombose, problemas pulmonares e infecções secundárias.

Como é realizada a cirurgia?

A cirurgia para tratamento da fratura de fêmur é um procedimento de grande porte, que dura em média 2 horas. Ela é realizada com anestesia geral, com o paciente em decúbito lateral e através de uma incisão feita na região posterior da coxa.

Quando a fratura acontece no colo do fêmur, a indicação geralmente é a remoção completa da estrutura comprometida e o implante de próteses, tanto na região do acetábulo (no osso do quadril) como do próprio fêmur.

Em fraturas nas regiões transtrocanteriana ou subtrocanteriana, dependendo da qualidade óssea, existe a possibilidade de estabilizar o osso com placas e parafusos. No entanto, isso nem sempre é possível em idosos, por conta dos processos naturais de envelhecimento. Dessa forma, mesmo nesses tipos de fraturas, o implante de próteses pode ser a conduta mais indicada.

Próteses Cimentadas e Não Cimentadas

Em pacientes mais idosos e com baixa qualidade óssea, pode ser utilizada a técnica de implante de prótese com o uso de cimento cirurgico. Nesses casos, as próteses costumam ser polidas e feitas de metais como cromo e cobalto. O cimento cirúrgico adere ao osso, servindo como molde. A prótese é implantada por cima dessa estrutura.

Já as próteses não cimentadas são rugosas e, geralmente, feitas de titânio. Nelas, a ideia é que o osso cresça e penetre na estrutura. Algo que, em pacientes idosos, pode não ser tão eficaz.

“Em breve, deverá chegar no Brasil um modelo de prótese cujo implante é realizado pela parte anterior do quadril. Nessa técnica, os músculos não sofrem cortes. Eles são apenas afastados. Essa abordagem proporciona mais estabilidade e diminui as chances de luxação no período inicial do pós-operatório” – Dr. Fernando Martins de Pina Cabral, Médico Ortopedista e Cirurgião de Quadril (CRM 26274).   

Pós-operatório

O pós-operatório da cirurgia para o tratamento de fratura de fêmur costuma ser bastante rápido. Já está comprovado que, quanto antes o paciente voltar a ficar em pé e caminhar, melhor.

De forma geral, após a cirurgia, o paciente é encaminhado para o Centro de Terapia Intensiva (CTI). Caso não apresente nenhuma intercorrência, é encaminhado para o quarto já no dia seguinte, onde tem início o trabalho de Fisioterapia. Na maior parte das vezes, em pouco mais de 24 horas o paciente é colocado em posição sentada e, até mesmo, em pé.

“A alta ortopédica acontece no momento em que o paciente consegue ficar em pé sozinho, sem tonturas ou indisposições. Assim, ele é encaminhado para casa, onde deverá realizar a fisioterapia de 2 a 3 vezes por semana” – Dr. Fernando Martins de Pina Cabral, Médico Ortopedista e Cirurgião de Quadril (CRM 26274).

Viver com Prótese

Após a cirurgia, são necessários pelo menos 2 meses para uma completa cicatrização da área tratada. Nesse período, as atividades do cotidiano deverão ser realizadas de acordo com orientação médica.

O principal objetivo da cirurgia para o tratamento de fratura de fêmur é devolver a qualidade de vida aos pacientes. Por isso, a cirurgia tem dois objetivos principais:

  • Eliminar a dor;
  • Permitir a realização de movimentos que, antes, eram impossíveis.

Uma preocupação comum dos pacientes que passam por este procedimento é a simetria do tamanho das pernas. Muitas pessoas tem receio de que, após a cirurgia, ficarão com uma perna maior do que a outra. No entanto, raramente o tratamento cirúrgico da fratura no fêmur deixa uma dismetria significativa entre os membros inferiores.

“A qualidade das próteses e da técnica cirúrgica evolui muito nos últimos anos. Hoje, o implante de próteses no quadril não é indicado apenas para pacientes idosos ou que sofreram fratura de fêmur. Pode ser uma opção também para pacientes jovens, que perderam a sua qualidade de vida por conta da artrose” – Dr. Fernando Martins de Pina Cabral, Médico Ortopedista e Cirurgião de Quadril (CRM 26274).

Sobre o autor:

Dr. Fernando Martins de Pina Cabral (CRM 26274) é Ortopedista e Cirurgião de Quadril. Formou-se em Medicina pela Universidade Federal Fluminense (UFF) em 2002. Fez residência em Ortopedia e Traumatologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Estágio em Cirurgia do Quadril no Instituto Nacional de Ortopedia e Traumatologia (INTO) e UFRJ. Foi chefe do Grupo de Cirurgia de Quadril do Hospital HTO-D. Lindú. Membro do Grupo de Trauma Ortopédico do Hospital Estadual Getúlio Vargas (RJ) e Membro do Grupo de Cirurgia de Quadril do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO). Fellow em Cirurgia do Quadril no Inselspital, Universidade de Berna (Suíça) 2017. É Mestre em Ciências do Sistema Musculoesquelético no Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO). Membro do Grupo de Ortopedia do Hospital Florianópolis. Membro das Sociedades Européia de Ortopedia (EFORT),  e Membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia (SBOT) e de Cirurgia do Quadril (SBQ).

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